Sell in May and Go Away: será que essa estratégia é eficiente?

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Naturalmente os investidores buscam padrões passados para validar as suas estratégias. Um desses padrões é o famoso Sell in May and Go Away, o qual define que o período de maio a novembro apresenta menores rentabilidades.

Nesse sentido, inúmeros investidores, principalmente no Brasil, utilizam como verdade o Sell in May and Go Away e, dessa forma, pautam suas operações nos possíveis movimentos de curto prazo que se encaixam na premissa datada do século 18.

O que é sell in may and go away?

Traduzindo de forma literal, o sell in may and go away significa “venda em maio e vá embora”.

Essa estratégia de investimentos tem como princípio a venda de um portfólio de ações no mês de maio e a recomposição do portfólio apenas em novembro.

Apesar de ainda utilizada por alguns investidores que a consideram vantajosa, é necessária uma análise minuciosa da estratégia, uma vez que quanto mais pessoas sabem de alguma assimetria no mercado, menor ela se torna até que não existam mais vantagens.

Por esse motivo, o primeiro passo para quem deseja aplicar essa estratégia é realizar backtesting, visto que com eles é possível entender o que poderia ter acontecido no passado caso a estratégia fosse colocada em prática.

Quando surgiu a teoria venda em maio e vá embora”?

Antes de explicar o surgimento do “venda em maio e vá embora”, é importante lembrar que existe uma versão mais completa para a frase, a “sell in may and go way, and come on back on St Leger’s Day”.

Assim, em sua tradução literal, a frase completa diz que o investidor deve vender em maio e voltar somente no dia de St Leger.

A criação da frase remonta à época em que os aristocratas e banqueiros saiam da cidade de Londres, durante o verão, para que fosse possível buscar locais mais agradáveis para as suas férias. 

Normalmente, o retorno da viagem para longe de Londres ocorria no dia St Leger Stakes, um festival onde ocorriam corridas de cavalos.

Assim, por conta da saída dos maiores expoentes do mercado inglês durante esse período, era comum que o mercado registrasse um desempenho aquém daquele em outros períodos do ano.

Com isso, e sabendo que com a saída dos aristocratas e banqueiros o mercado inglês sofreria bastante, passou-se a utilizar a métrica para sair do mercado antes do mês de maio e retornar apenas após o evento de St Leger Stakes.

Ao adotar essa premissa, os agentes entendiam que estariam reduzindo o risco e, ainda, aumentando a probabilidade de obter melhores retornos, uma vez que estariam de fora do mercado de baixa.

O indicador do Halloween

A frase ganhou tanta força que chegou aos Estados Unidos, hoje o maior mercado do mundo. 

Com base na história inglesa e, adequando ao cenário americano, nos Estados Unidos a teoria “venda em maio e vá embora” ficou conhecido como “the halloween indicator”.

Esse nome se deu em virtude da bolsa de valores norte-americana apresentar efeitos baixistas que se iniciavam em maio e se encerravam nas semanas mais próximas ao Dia das Bruxas.

A métrica ganhou tanta força, que até mesmo Ben Jacobsen e Sven Bouman realizaram um estudo sobre esse efeito no mercado e publicaram os resultados no ano de 2002.

No estudo, que levou em consideração 37 mercados de países desenvolvidos e emergentes, 36 deles apresentaram os efeitos de queda entre maio e novembro e melhores resultados entre novembro e abril.

O estudo ainda revelou que o efeito foi mais significativo em países europeus, o que de acordo com a história do surgimento da métrica faz sentido, uma vez que desde o século 17 ele ocorre no Reino Unido.

Assim, o estudo concluiu que, apesar de algumas sazonalidades, o efeito do sell in may and go Away era verdadeiro, principalmente para o índice das 30 maiores empresas americanas, o Dow Jones.

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Como o mês de maio se comporta na bolsa brasileira?

De acordo com o estudo realizado por Ben Jacobsen e Sven Bouman, para o mercado norte americano, a frase faz muito sentido no desempenho das bolsas de valores.

Agora, e para o Brasil, será que os meses de maio a novembro realmente apresentam desempenho inferior?

Se depender dos investidores, a frase faz sentido sim, uma vez que no Brasil existe a ideia de que a premissa de vender em maio e comprar em novembro é válida.

Assim, como existe a evidência de que nos Estados Unidos esse período apresenta menor desempenho, como as bolsas de lá são correlacionadas com a bolsa brasileira, é de se esperar que o movimento também ocorra no Brasil.

Isso acontece, uma vez que ao reduzirem os aportes nos Estados Unidos, o capital estrangeiro também deixa de entrar no Brasil, o que afeta diretamente a movimentação na B3.

Desse modo, estudos apontam que entre 2010 e 2020, em 8 ocasiões o mês de maio foi de desempenho ruim para o Ibovespa, o que é explicado pela baixa demanda pelas ações.

O sell in may and go Away deve fazer parte da sua estratégia de investimentos?

Apesar das evidências apresentadas, tanto na análise da bolsa de valores brasileira, quanto da americana, a premissa de vender uma carteira de ações em maio e voltar a montá-la no mês de novembro, não é a melhor forma de obter rentabilidades.

Dessa maneira, o “sell in may and go Awaynão deve ser utilizado como verdade e, principalmente, como estratégia de investimento, podendo ser apenas um auxiliar para a tomada de decisão.

Nesse sentido, antes de pensar em adotar essa prática tão difundida no mercado, o investidor deve entender que a sua carteira de ações deve ser escolhida e sofrer alterações com base em análises mais profundas.

Entre essas análises, é possível utilizar a fundamentalista, que foca nos números da empresa, através de uma análise minuciosa de seu balanço ou a análise técnica, que tem como premissa que todos os acontecimentos e características do negócio estão presentes no seu preço.

Além disso, o investidor em ações deve entender que o seu foco é realizar aportes em boas empresas, as quais no longo prazo tendem a obter resultados cada vez melhores, o que irá desaguar na valorização das ações.

Por isso, ficar preso a movimentos de curto prazo, os quais são caracterizados como sazonalidades em um mercado que evoluiu muito desde o início da ideia do “sell in may and go Away”, pode ser fatal para a sua carteira.

O investidor, principalmente o iniciante, deve entender que independente de qualquer movimentação do mercado a sua estratégia, que deve englobar tanto os pontos de entrada quanto de saída, não deve sofrer alterações, apenas em casos nos quais o ciclo de longo prazo apresente mudanças.

Portanto, o investidor que busca montar uma carteira de ações que lhe proporcione bons resultados, deverá:

  1. Avaliar com pouca frequência sua carteira de investimento;
  2. Procurar boas empresas para investir, principalmente utilizando análise técnica, fundamentalista, macroeconômica, entre outras;
  3. Fazer um rebalanceamento da carteira de investimento de tempos em tempos, podendo ser de forma anual ou semestral;
  4. Focar nos seus objetivos pessoais e no seu perfil de investidor.

Assim, apenas seguindo esses passos e realizando aportes mensais, independente se o período é de alta ou de baixa, o investidor irá alcançar resultados satisfatórios aos seus objetivos.

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Vale a pena vender em maio e ir embora da bolsa?

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Agora que a teoria “venda em maio e vá embora” está mais clara a pergunta que fica é se vale ou não a pena seguir essa forma de estratégia.

Nesse sentido, conforme exposto no decorrer do artigo, mesmo que o movimento de piores desempenhos dos índices acionários nesse período comparado com o período de novembro até maio, tenha como estratégia uma percepção de mercado, poderá lhe causar grandes problemas.

Como a premissa de vender em maio e ir embora surgiu no século 18, é natural que o mercado já tenha absorvido esse movimento e reduzido de forma exponencial a discrepância de resultados entre os períodos.]

Soma-se a isso, o fato de que grandes analistas, com anos de experiência de mercado concluírem que é muito complexo prever como será o movimento do mercado acionário.

Com isso, as movimentações na carteira de ações pautadas no sell in may and go Away”, tendem a prejudicar os investidores, principalmente aqueles que pagam altas taxas de corretagem para operar.

Portanto, para que seja possível se beneficiar dos movimentos de mercado, o investidor tem que entender que:

  • Investir é uma forma de reduzir o seu consumo presente para aumentá-lo no futuro;
  • Premissas extremamente difundidas e utilizadas tendem a ser ineficientes, uma vez que o mercado capta as imperfeições;
  • É necessário um método claro de investimentos, o qual deve estar alinhado com o seu perfil de investidor;
  • Investir não é apenas comprar e vender ações, é uma junção de análises, percepções e conhecimento de negócios. O investidor deve lembrar que está se tornando sócio da empresa.

Assim, apesar de algumas evidências de sazonalidades nos mercados, investir pautado no “sell in may and go Away” não deve ser o principal componente de uma estratégia sólida de investimentos.

 

Guilherme Almeida
Guilherme Almeida
Bacharel em Economia e Especialista em Finanças Corporativas e Mercado de Capitais pelo Ibmec-MG. Mestrando em Estatística pela UFMG, atua como professor, palestrante e porta voz das áreas de economia e finanças, tendo concedido mais de mil entrevistas para os principais meios de comunicação. Atualmente, leciona matérias ligadas à Economia e ao Mercado Financeiro em cursos preparatórios para certificações financeiras, além de ser o Economista-Chefe do departamento de Estudos Econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG).